Por Rogério Faria
A mãe Dinah se foi. Nada que ela não
tivesse previsto, claro... Perdeu a convocação do Felipão.
Pena ela não poder ter tido o gostinho de dizer mais uma vez, ao ver a
escalação, “Eu já sabia!”. Mas ela me faz lembrar um causo ocorrido, durante
minha adolescência, na minha Paraibuna, cidadezinha caipira de menos de 20 mil
habitantes no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.
Há
vinte anos, acho que em 1995, alguns amigos e eu assistíamos a um filme quando
alguém teve a ideia de espalhar um boato de que a Mãe Dinah teria previsto o
estouro da represa de nossa cidade. Trate-se de um reservatório gigante, com
760 quilômetros de perímetro e cinco bilhões de metros cúbicos de água. Um
paredão separa aquele mar de água-doce da pequena área urbana no vale lá
embaixo.
Lembro-me
de escolhermos uma data específica, o dia 25 de março, dali a algumas semanas,
aniversário do pai de um daqueles imberbes conspiradores. Cada um tinha uma
tarefa: espalhar no clube, na escola, na família.
A
Mãe Dinah estava em destaque na época. Fazia previsões no atacado em programas
dominicais.
Dias
depois, um colega que não tinha participado da reunião me contou que a amiga da
mãe dele conhecia uma vizinha que tinha uma prima que viu com os próprios olhos
a Mãe Dinah fazer o vaticínio no programa de auditório do Gugu. A brincadeira
tinha saído do controle.
À
época, foi uma comoção “nacional”... em Paraibuna, movimentando a rotina de
seus habitantes. A gente ouvia história de pessoas aterrorizadas, famílias se
mudando, fazendeiros doando suas terras. O confessionário, então, estaria
movimentadíssimo; todos queriam estar em paz com o Criador!
Será
que finalmente se concretizaria a antiga maldição da cobra grande? A lenda
conta que, enterrada embaixo da cidade, dorme uma cobra gigantesca, com parte
do corpo embaixo da represa. Um dia, ela irá finalmente se levantar e derrubar
a represa, inundando a cidade. Era a hora?
Eu
fazia o colegial na cidade grande, São José dos Campos. Lá, um amigo veio
contar que havia assistido a uma reportagem no jornal vespertino da TV
Vanguarda, retransmissora da Globo, sobre a tragédia profetizada. A, então,
ilustre vidente teve que ir à tevê se explicar. Disse que não tinha previsto
nada daquilo. Não bastou para acalmar os paraibunenses.
Dia
25 de março chegou. A primeira página do saudoso Notícias Populares daria algo
do tipo “Hoje Paraibuna vai pro brejo!”. Foi um dia de churrasco, bebida,
música e alegria. Lembram que era aniversário do pai do meu amigo? E veio o dia
26 de março. Paraibuna ainda estava lá. E continua até hoje. Não foi dessa vez
que a cobra se levantou...
Mãe
Dinah deixará saudades por ter feito parte da história dessa pacata cidade. No
fundo, gostaria de ter olhado nos olhos dela por uma última vez e perguntado:
“Mãe Dinah, o Brasil vai ganhar a Copa?”